Registo de Joaquim Manuel Correia sobre a Bismula

joaquim-manuel-correiaA Bismula de finais do século XIX aparece descrita num registo de Joaquim Manuel Correia publicado no livro “Memórias do Concelho do Sabugal” em 1893. Transcreve-se aqui na integra esse registo sobre esta freguesia:

“Antigamente tinha esta povoação o nome de Rasa. É situada em lugar elevado, donde se disfruta um vasto horizonte. Dista do Sabugal uns 20 quilómetros, ficando a nordeste da vila.
Antigamente existia ali um reduto, cujo local se ignora ou não pode já determinar-se com precisão.
A pequena distância passa a ribeira da Nave, em cujas margens há fertilíssimas veigas e pastagens, vulgarmente chamadas lameiros.
A povoação é abundante em centeio, batatas, linho e outros produtos agrícolas e houve ali também muitas vinhas antes da invasão filoxérica. Tem muito gado lanigero e bovino.
Metade da povoação, chamada Rasa, pertencia ao concelho de Vilar Maior e a outra metade ao concelho do Sabugal.
Diz Pinho Leal que a Rasa desaparecera havia cem anos, o que apenas pode significar que ela se uniria então à outra metade, isto é, à Bismula.Tem cadeira de ensino elementar, para o sexo masculino, criada nos fins do século passado.
É povoação muito antiga, encontrando-se nos seus limites sepulturas, geralmente atribuídas aos Romanos, existindo algumas nos sítios dos Arroios e perto da capela de Sta. Barbara que dista 2.500 metros da sede da freguesia. À saída da povoação existe outra ermida, da inovação de Sto. Amaro.
A igreja paroquial é de regulares dimensões e regularmente ornada. O orago é Nossa Senhora do Rosário. Tem uma boa e elevada tôrre e 2 sinos. O pároco era da apresentação do Reitor de Vilar Maior, tendo 4.800 réis de côngrua. O rendimento paroquial, segundo as declarações do falecido padre João Antunes Sousa, que era natural do Souto, era o seguinte:
Côngrua, 80.000 réis; Pé de altar, 40.000 réis; Casamentos, 400 réis; Baptisados, 400 réis; Enterramentos de menores, 230 réis; Bens de alma, de 3 a 9.000 réis.
Em 1765 tinha 96 fogos e, segundo vimos, em antigos corógrafos, tinha em 1708 30 fogos. Esse aumento da povoação em tão pouco tempo talvez se explique pela reunião da Rasa à Bismula, a que alguns chamam também Pismula.
Actualmente tem 128, compreendendo a Quinta do Faleiro.
Em 1886, se a memória não nos falha, foi condenado pelo crime de homicidio um individuo vulgarmente conhecido pela alcunha de Barbas, morrendo na Penitenciária de Lisboa. Assassinou um oficial diligencias, Espalmado de alcunha, no Sabugal, num momento de desespêro, por êle lhe negar uma dívida de  seis ou sete mil réis.
Anos depois foi ali assassinado por outro individuo da Bismula um homem, por causa duma disputa sôbre águas, sendo um sacho o instrumento do crime.”

“Memórias do Concelho do Sabugal” de Joaquim Manuel Correia / Sabugal (finais do século XIX)

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José Barradas

 

 

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